A serendipidade e o seu acólito. Quando Thomas Edison construiu o seu primeiro fonograma em 1877, propôs num artigo, dez possíveis utilizações para o mesmo, entre as quais a gravação em áudio de livros para o benefício de cegos, o ensino fonético da pronúncia das palavras, e o registo das últimas palavras de pacientes no leito da morte. A reprodução de música não estava na sua lista de prioridades. Poucos anos depois Edison chegou a comentar com um assistente que esta sua invenção não tinha valor comercial. Com o passar dos anos mudou de ideias e decidiu vender o fonograma para o uso em escritórios como máquinas de ditar.
Com o aparecimento da jukebox – fonogramas que tocavam música popular com moedas – o Edison opôs-se veemente a este uso degradante da sua invenção. Passaram 20 longos anos até que Edison concedesse de forma relutante ao uso do fonograma para gravar e tocar música, algo que ele entendia desprezar a utilização séria da sua invenção. Nesta capacidade, o sucesso em vendas desta invenção ultrapassou todas as expectativas possíveis e imaginárias. De um ponto de partida antagónico e resistente, Edison abraçou com gratidão o estrondoso sucesso financeiro que o uso comercial deste aparelho proporcionou.
Temos neste caso um exemplo perfeito da serendipidade: um ato de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão. O propósito que guiou Edison na invenção do fonograma não correspondeu à sua aplicação verdadeira e essencial.
Em 1895 um terapeuta manual chamado D.D. Palmer reparou que o contínuo do prédio onde se situava o seu consultório, tinha um alto na coluna, ou seja, um vértebra recuado, saliente. Com uma intensão sem rodeios aplicou uma pancada rigorosa na dita cuja. O paciente até então parcialmente surdo depois de ter ouvido um estalo na coluna 17 anos antes, disse ter recuperado poucos dias depois, totalmente a audição.
A notícia espalhou-se depressa e na ingenuidade da época muitos pacientes surdos recorreram ao consultório na esperança de poderem também eles beber de Chopin e Verdi. Saíram tão surdos como entraram, contudo, mais aliviados das maleitas da coluna. Um padrão que se foi intensificando de forma surpreendente e inesperada: a serendipidade manifestada.
Com esta evidência a cair-lhe no colo, o D.D. Palmer refinou a sua técnica dirigida às vértebras, e ao contrário do seu contemporâneo Edison, anui sem demora aos factos e em 1898 abre um instituto de ensino da quiroprática que chegou a ter 2000 alunos inscritos.
Palmer abraçou a serendipidade com gratidão e com um sentido de urgência, nascendo assim a profissão de terapias complementares mais concorrida no ocidente.
Quem é o seu quiroprático?